segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O Banco



É, pois é, e lá vamos nós outra vez. Sinto o tranco da partida do Ônibus 372U que liga os Bairros Vila Santa Isabel e Tatuapé, linha na qual eu trabalho. E lá vamos nós mais uma vez, a segunda do dia, as 8:45 da manhã. O motorista da seta para a esquerda e inicia mais um trajeto que dura cerca de 40 minutos. São pelos menos sete pessoas no ônibus além do cobrador e do Seu Anízio, o motorista vagaroso. Sou o último banco do lado direito do ônibus, ou para facilitar a memória, a última fileira de bancos, aquela de cinco lugares, onde pula pra caramba, sacou? Pois bem, cá estou trabalhando enquanto muitos ainda vão para o trabalho.

Lá na frente, perto do cobrador, do lado direito mesmo, há uma senhora de cabelo roxeado, não pergunte por que disso. A única coisa que sei dela é que é viúva, sem graça e reclamona. O que essa pobre alma infeliz despertou em mim? Nada não, era só passatempo de um banco observador.

Paramos no segundo ponto após a partida, uma linda mulher de vestido comprido verde musgo entra em cena. Passa a catraca e vem em minha direção. Pois é, ela pode parecer delicada, mas decidiu sentar-se em mim. Então, decidi ajudá-la a sentir-se confortável em sua mini viagem ao trabalho, ou metrô, whatever. Em meio a nossa jornada, seu celular vibra perto do meu estofado meio gasto, mas ainda fofinho e cheinho. Ela então pega rapidamente seu celular sem que eu pudesse ver quem era e começa sua conversa: "Alô, oi... sério?.. Por que? ... mas, mas... não acredito que está falando assim comigo, perai! Olha bem como fala... isso é mentira, é ment.... alô? alô? ALÔ???"

Ela quase esmaga o telefone enquanto diz alguns palavrões, levanta-se com pressa, aperta o botão do meu "balaústre" e sai no primeiro ponto que a porta se abre. Podemos imaginar quem era atrás da linha, podia ser o chefe, o namorado, um grande amigo, a mãe... Sinceramente não sei, só sei que, tentar adivinhar faz meu tempo passar, e como a postura de uma linda mulher de vestido tende a acabar. É a vida, é a vida, é....

Mas vamos lá, chegamos à praça! Uma muvuca entra no veículo do seu Anízio, agora quem será a próxima pessoa a usufruir do meu rápido afeto. Um homem, aparentando ter seus quarentas anos, senta-se ao meu lado e logo em seguida, seu aparentemente amigo, senta-se em mim. E lá vamos lá. Pela aparência eu diria que é advogado, de terno e gravata, só pode ser. Eles começam a conversar: "Cara precisamos resolver aquele bagulho, você todo grã-fino assim consegue tapear? É hoje que a gente pega aquela velha sem vergonha"

Não acredito! Pasmei-me, abobalhei-me. São vigaristas? Ou serão traficantes? Ou serão apenas homens de meia idade irados por infortúnios de uma vida sociável. Sei lá, mas de uma coisa sei, aparências enganam, e já é meu segundo somente nessa segunda viagem. Uma idosa passa a catraca e olha fixamente para o rapaz que esta sentada em mim. Ele por sua vez, desvia o olhar, pede licença para o companheiro e desce no ponto perto do shopping. Será que é ela? A velha sem vergonha? Continuo a observar....

A velha olha para um lado e para o outro, senta em mim enquanto o outro rapaz olha assustado para o movimento da vovó. Ela é pesada, gorduchinha engraçada. A curva que liga o shopping com o parque é meio brusca, por isso a vovozinha se apoiou em mim para não se debruçar no homem ao lado. Quando todos menos esperavam o homem diz: "Caramba velha, que peido é esse? Assim vai destruir o ônibus, pelo amor... fui". Confesso que fiquei atordoado enquanto via o homem empurrando os outros e indo em direção à primeira porta do ônibus, lá na frente. A velha fez alguma coisa? Fez sim, riu, riu muito, riu muito e alto, enquanto todos olhavam sem entender nada. Velha maluca? Não. Velha peidona? Ai sim! Ai ai, quanta gente maluca que senta por aqui.


Chegamos a outra praça, muito perto do nosso destino final, a velha flatulenta se levanta e já fica preparada para ser a primeira a descer quando o ônibus repousar no destino. Todos olham para mim, estava amassado, tentando recuperar meu formato inicial. Última curva, alguns se apoiam em mim, e enfim, chegamos.

Enquanto o pessoal começa a descer, eu os encaro enquanto me estufo novamente, vejo crianças, moças, homens, idosos e tudo mais. Meu trabalho é muito interessante não acham? Mas, afinal, o que é que eu quis mostrar para vocês comentando sobre as pessoas que sentaram em mim? Na verdade nada, seria loucura pensar que eu estava querendo lhes passar algo, afinal, banco de ônibus não fala, mas ahh se falasse....

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